
Com a psicanálise entendemos a adolescência como um tempo lógico, marcado pelas transformações no corpo que, com a puberdade, se torna apto para a reprodução, mas sem um correspondente psíquico compatível a essa maturidade biológica. Do ponto de vista psíquico o jovem não encontra respostas absolutas ou prontas para o que este despertar do corpo pelas pulsões suscita.
Neste tempo, nossos adolescentes precisam responder a muitos questionamentos e lidar com impasses que surgem ou se atualizam com expressões novas.
Eles se deparam com a tarefa de se tornarem os adultos do seu tempo e para isso é necessário que se desliguem da autoridade dos pais, encontrem suas referências e ainda, que respondam a certos posicionamentos sexuais.
Esses questionamentos e impasses são, em nossos dias, acompanhados por certo desamparo, além daquele que faz parte da nossa estrutura enquanto sujeitos. Não há mais, em diversos casos, a sensação de ter alguém que possa auxiliar na busca de respostas, e tampouco a cultura parece emprestar referenciais a estes adolescentes que pudessem servir de balizas em suas decisões e trajetórias.
As respostas devem ser construídas e praticamente de forma artesanal com os recursos disponíveis, que podem até ser rudimentares, levando em conta situações de vida precárias, sem apoio social, econômico ou político.
Mas é nestas condições que nossa adolescência precisa encontrar seu palco de existência na cena do mundo.
A pergunta primordial talvez nem seja o que é a adolescência nestes tempos, mas, sim, o que pode ser um adulto ou até uma instituição como a escola, para estes adolescentes nesta transição tão delicada.
Essa pergunta se torna ainda mais emblemática em tempos em que o isolamento social se faz necessário. Além da transmissão do conhecimento, a função da escola toca naquilo que Freud chamou de transmissão do desejo pela vida. Assim podemos nos arriscar e nos questionar se a nossa escola ou se nós, adultos responsáveis pelos dispositivos da nossa sociedade, temos sustentado essa preocupação para além dos instrumentos de avaliação de conteúdos e manutenção de currículos, seja na forma presencial ou não.
Ainda o mesmo Freud disse que o progresso de uma época é possível pela sucessão geracional.
Nessa esteira, o que será que encontraremos no nosso futuro social próximo a partir do que hoje temos, concretamente, desejado, planejado ou construído para os nossos adolescentes?
Texto: Patricia Gomes